Seu cérebro, investimentos e a neuroeconomia

03/10/2021 20:56:37

4 min e 27 segundos

Todos sabem que se deve comprar na baixa e vender na alta, contudo, frequentemente, compram na alta e vendem na baixa.

Todos sabem que vender no pânico é uma péssima ideia, mas basta um rumor (que muitas vezes nem é confirmado depois) para que a ação de uma empresa perca bilhões em valor de mercado num piscar de olhos.

Todos sabem que ninguém consegue prever o que vai acontecer com o mercado, todavia os investidores adoram seguir qualquer estimativa que possa aparecer em sua frente.

Todos sabem que ficar correndo atrás das ações (ou dos fundos) que mais subiram é um ótimo caminho para perder dinheiro, porém investidores se pegam fazendo isso mesmo quando já haviam prometido a si próprios que nunca mais cometeriam esse erro.

Sim…investir é psicológico. Quando se trata das decisões relacionadas a investimentos, nosso cérebro é muito menos consistente, eficiente e lógico do que gostaríamos que ele fosse. Ao investir – não importa se você é um gestor profissional, um vencedor de um prêmio Nobel ou apenas alguém preocupado com sua aposentadoria – seu cérebro combina os frios cálculos sobre probabilidades com reações instintivas relacionadas à euforia do ganho ou à angústia da perda.

Ao investir, seu cérebro pode gerar um turbilhão de emoções. Você não vai simplesmente somar, multiplicar, estimar e avaliar. Quando você ganha, perde ou arrisca dinheiro, você vai sentir algumas das emoções mais profundas que o ser humano pode sentir.

O psicólogo Daniel Kahneman, autor do livro “Rápido e Devagar” (se você ainda não o leu, deveria), diz que o processo decisório sobre investimentos não é necessariamente sobre dinheiro, mas sim influenciado por motivos intangíveis como evitar o arrependimento ou alcançar o orgulho.

Investir exige que você tome decisões com informações sobre o passado e palpites no presente sobre riscos e recompensas que vão se materializar apenas no futuro. Ao longo do processo, você será influenciado por várias emoções como esperança, ganância, orgulho, medo, pânico, arrependimento, felicidade…

O cérebro é uma máquina que funciona brilhantemente quando o objetivo é  mantê-lo longe dos perigos da vida ou guiá-lo para recompensas básicas como comida, conforto e amor. Mas essa máquina não foi programada para lidar com as complicadas decisões que você tem que tomar no confuso e complexo mercado financeiro.

Os três tipos de investidores

O escritor e colunista do The Wall Street Journal, Jason Zweig, acredita que existem apenas 3 tipos de investidores: os que se acham gênios, os que se acham idiotas e os que não têm certeza.

Via de regra, aqueles que não têm certeza são os que estão certos. Se você acredita que é um gênio dos investimentos, certamente é menos esperto do que imagina e deveria se policiar para não perder dinheiro tentando ser mais inteligente que os outros.

Se você pensa que é um idiota em relação aos seus investimentos, você provavelmente é mais esperto do que acredita e precisa apenas treinar seu cérebro para entender como triunfar investindo.

Conhecer mais sobre si mesmo vai fazer você ganhar mais dinheiro (ou pelo menos impedi-lo de perder mais). O campo da neurociência – mais especificamente o campo da neuroeconomia – tem muito a lhe ensinar, veja algumas das descobertas dos últimos anos:

  • Um lucro ou prejuízo monetário não é apenas um resultado financeiro ou psicológico, é algo que gera efeitos biológicos profundos em seu cérebro e em seu corpo.
  • A atividade neural de alguém que está ganhando dinheiro é indistinguível da de alguém que está sob efeito de substâncias como a cocaína ou morfina.
  • Depois de duas repetições de um estímulo – como uma ação que sobe dois dias seguidos –, o cérebro humano automaticamente e inconscientemente espera uma terceira repetição.
  • Quando as pessoas chegam à conclusão de que retornos nos investimentos são previsíveis, seus cérebros respondem com um alarme quando o padrão aparente é quebrado.
  • As perdas financeiras são processadas nas mesmas áreas do cérebro que respondem aos riscos mortais.
  • Antecipar um ganho e de fato alcançá-lo são acontecimentos processados de maneiras completamente diferentes pelo cérebro.
  • A expectativa criada sobre eventos bons ou ruins é muito mais intensa que a real experiência ao vivenciá-los.

Entender como o cérebro funciona e como ele pode afetar seus investimentos vai lhe permitir determinar objetivos mais realistas e alcançáveis, além de torná-lo um investidor mais calmo e paciente.

Ademais, você conseguirá utilizar as notícias filtrando os ruídos do mercado, medir os limites da sua expertise, minimizar a quantidade e severidade dos seus erros e, por fim, controlar o que pode e não se preocupar com o resto.

Talvez estudar mais sobre investimentos não é o que vai fazer você obter um melhor resultado, às vezes, o que você precisa para alcançar retornos superiores com mais segurança é se conhecer melhor.


Fonte: Nord Insights

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