Há quem diga que mundo não dá voltas. Dá piruetas.
Antes de Bambam vem George Orwell. Este escreveu um dos maiores clássicos da literatura mundial de todos os tempos. “1984”, ao lado de seu outro inesquecível “A revolução dos bichos”. A obra é fabulosa. Quase uma fábula sobre uma sociedade em que o Estado é poderosamente (mais que isso, astronomicamente) controlador. Vigia tudo e todos em tempo real. Onipresente, onipotente e onisciente.
A Rede Globo que não tem nada de bobo se inspirou em “1984” e conquistou parcela enorme de telespectadores (e de anunciantes) com uma casa onde tudo (nela) é onipresente, onipotente e onisciente. O programa “grande irmão”, se inspirando em Orwell, ganhou ares (e letras) no inglês. Big Brother. Abrasileirou e ficou Big Brother Brasil.
Em 2002 Kleber Bambam foi o vencedor do tal reality show. Já Acelino Freitas não participou do famoso show global, mas ficou conhecido mundialmente. A ele se referem (ou se referiam) como Mão de Pedra e Estrela do Nocaute. Nem precisa explicar a escolha dos adjetivos (ou apelidos). Para o grande público somente Popó.
No dia 25 de fevereiro de 2024 o destino dos dois se cruzou. O pugilista de tantas premiações encontrou-se no ringue com o pugilista de poucos prêmios, mas de fama global para uma luta épica com direito à transmissão televisiva.
Poucos sopapos em pouquíssimos segundos selaram o encontro. Melhor: determinaram o término da disputa. O homem da “casa mais vigiada do Brasil” foi nocauteado pelo Mão de Pedra. Foi bam, bam e Bambam nas cordas. Popó ergueu os braços sinalizando a vitória facilmente conquistada.
No ringue da vida, o RPPS é tão vigiado quanto a casa onde Bambam estava. Os socos certeiros de Popó se equivalem aos desafios cotidianos que os gestores e conselheiros enfrentam.
O Big Brother fora do padrão global é plural, é polifônico. É Câmara Municipal. É Tribunal de Contas. É Ministério Público. É sabe se lá mais o quê…
E tem torcida. A favor e contra.
Gestores e conselheiros são uma mistura de Bambam e Popó. São Bambans “vigiados”, monitorados. São Popós desafiados a serem mãos de pedra. Há uma diferença gritante. O RPPS não pode ser nocauteado pois deve se equilibrar nos moldes em que dita a Constituição Federal. Tem que buscar o equilíbrio financeiro e atuarial. Pode até balançar, mas não pode cair. Por isso a unidade gestora fica como se estivesse na tal casa mais vigiada. O controle interno não é suficiente. Há o controle externo por inúmeros órgãos.
Bambam foi às cordas? Gestores e conselheiros devem se preparar, “treinar”, capacitar, aprimorar, estudar. Não às vezes. Sempre.
Os dois personagens reais que dão título a estas linhas saíram do ringue com a conta bancária engordada em alguns milhões de reais. O RPPS quando vai às cordas perde alguns milhões. Por isso a importância da educação previdenciária para todos. Se os dois pugilistas se entregam a treinos pesados é necessário e inadiável a preparação constante de todos aqueles que se dedicam à gestão previdenciária. TODOS. Basta uma análise literal no disposto no artigo 8º da Lei Federal 9.717. “Os responsáveis pelos poderes, órgãos ou entidades do ente estatal, os dirigentes da unidade gestora do respectivo regime próprio de previdência social e os membros dos seus conselhos e comitês respondem diretamente por infração ao disposto nesta Lei”.
Por falar em luta de Bambam e Popó, por falar em luta de gestores e conselheiros versus o equilíbrio financeiro e atuarial ( e para por fim a este texto) nada como lembrar de Gonçalves Dias, que escreveu os seguintes versos:
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
Por Heli Maia / Dirigente do Instituto de Previdência de Itaúna (MG)
Comentários
Valter Gonçalves
01/03/2024 - 14:44h
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