Impacto da Renda Fixa no Regime Próprio de Previdência

09/08/2024 08:37:37

3 min e 21 segundos

Com o histórico elevado de risco institucional brasileiro causado por uma série de eventos políticos e econômicos ao longo de décadas, desde períodos de hiperinflação; a reincidente, porém agora estável, troca de moedas; moratória de dívida externa; impeachment de presidenciáveis acompanhados de forte tensões institucionais; crises econômicas por políticas internas e externas; níveis de inadimplência; entre outros fatores fizeram com que o prêmio de risco exigido pelo investidor que deseja alocar no Brasil, fosse naturalmente mais elevado.

No centro das pautas de todo o mercado, a discussão fiscal brasileira passa muito pela análise quantitativa de qual porcentagem em relação ao PIB o país encontra-se endividado, porém em volume muito menor é falado sobre o qualitativo dessa dívida e desses juros da dívida.

Enquanto países estrangeiros institucionalmente mais estáveis possuem como principal característica a dívida atrelada a juros prefixados, portanto, mais previsíveis, no Brasil, mais de 2/3 da dessa dívida é atrelada a inflação, menos previsível.

Todavia, como os RPPSs se diferenciam dos demais investidores por serem investidores de longuíssimo prazo e mais ainda como macroalocadores em renda fixa, um prêmio de risco superior permite que os RPPSs capturem rentabilidades também superiores ao passar dos anos, se estes estiverem expostos e protegidos pelo prêmio de risco sobre a inflação, o famoso ganho real, ou seja, esse tipo de piora de quadro econômico se torna de certa forma até benéfica para o RPPS.

Para ilustrar, podemos exemplificar com os acontecimentos econômicos recentes em que sob desancoragem de expectativas inflacionárias, incerteza do quadro fiscal brasileiro, e cenário econômico exterior adverso, a moeda americana apresentou grande volatilidade perante a moeda local, e notamos títulos do tesouro nacional remunerando mais de 6% acima da inflação, um movimento extraordinário no histórico brasileiro.

Para encontrar o equilíbrio perfeito, ou muito próximo a isso, surgem estudos que permitem que o investidor ateste a proporção de alocação dos ativos em relação ao prazo, taxas, e liquidez para fazer cumprir com suas obrigações de curto, médio e longo prazo, como por exemplo a gestão integrada de ativos e passivos, ou como é mais comumente conhecido, Asset and Liability Management (ALM).

Porém, essa remuneração extra que agrada os investidores, popularmente taxado de “rentistas” também pode representar um enorme risco para os próprios investidores. Apesar de uma taxa que engorda o retorno da carteira, no longo prazo essa alta taxa representa um peso muito maior para a contraparte em relação ao seu credor. E quando falamos dos títulos do tesouro, a contraparte é o próprio governo, que apesar de representar a figura da contraparte mais “segura” do mercado, também sofre com pressões das obrigações financeiras.

E ainda que esse risco soberano seja um dos riscos mais baixos para se correr, e que o governo possua como característica justamente a rolagem dessa dívida, a sustentabilidade dessa dívida no longuíssimo prazo também é um fator que volta e meia cai no centro dos debates.

Retorno, taxa, remuneração, é bom e todo investidor gosta, mas para a sustentabilidade econômico-financeira nacional, o equilíbrio das contas recai na discussão e àquela máxima retorna: a diferença do remédio e do veneno está na dose.

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Por Henrique Cordeiro / Economista na Crédito e Mercado Consultoria

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